sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Teresa

"A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas."
(Manuel Bandeira - Teresa)

E esse foi meu erro, esquecer que Teresa tinha pernas estúpidas e olhos velhos. A ignorância me levou a ilusão de acreditar que foi o amor que sucumbiu meu olhos.
Na espectativa de alcançar o Céu, não vi mais os defeitos de Teresa. Então me machuquei, me magoei.
Mas Teresa não é só olhos, tampouco só pernas. Teresa tem coração, tem mãos, Teresa tem boca, pés e outras partes que não são feias. Teresa não é perfeita.
Ora, também eu não sou.
Como Teresa, também tenho partes feias, boca torta, olhos esbugalhados, pés groceiros, cabeça rachada (sei lá).

Como, então, cobrar de Teresa que ela seja perfeita. Quem me julgo ser para exigir de Teresa a perfeição?
Agora, o sopro de vida me invade, com clareza vejo as pernas estupidas, vejo os olhos velhos e amo Teresa do jeito que ela é. Pois também ela me ama do jeito que sou.
E assim, dicotomias errantes, amantes, Teresa e eu somos uma só pessoa.
Somos iguais nas nossas diferenças. Aprendizes da vida.
Aprendi, mas uma vez, não se ama apenas o belo. Se ama o real.
Eu amo Teresa.